Há pessoas como eucaliptos. Digamos que são uma espécie de eucalipessoas. Deste bizarro termo de comparação excluo os eucaliptos esguios que se perfilam, disciplinados, no dorso dos montes. Falo mais daquelas grandes árvores impassíveis, de cabeleira abandonada ao vento, que contemplam o tráfego junto às estradas. São árvores que têm no solo à sua volta um halo de folhagem seca, acumulada pelo tempo, no centro do qual emerge então o vasto tronco solitário.
Também há pessoas assim, facilmente perceptíveis no meio dos aglomerados de gente porque têm, como os eucaliptos, um espaço vazio à sua volta, ainda que por vezes esteja menos definido. Aliás, os próprios aglomerados de gente são, cada vez mais, feitos destas eucalipessoas, cada uma bem no centro do seu próprio halo de solidão. Nem mais ou menos feias, nem mais ou menos inteligentes, nem mais isto nem menos aquilo em relação a todas as outras: tão somente eucalipessoas. Cada vez mais são de todas as idades e condições sociais e estão por toda a parte: nos concertos, no teatro, no cinema, nas redes sociais, na rua, nas lojas, no café, no supermercado... Identifico-as à minha volta com a facilidade instintiva e certeira de quem descobre os seus iguais.
Certo é que, se esta proliferação de eucalipessoas vier a provocar no terreno social algo de semelhante ao que os eucaliptos provocam no solo natural, então é que estamos feitos.
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