Cem depois da implantação da República – a revolução que em Portugal mais se aproximou daquilo que foi a Revolução Francesa, em termos de ideais, de valores e até de objectivos – e no que à situação das mulheres diz respeito, costuma dizer-se que mudou sobretudo o discurso, tudo o resto se mantém ainda muito igual. De facto, foram poucas as conquistas efectivas das mulheres, sobretudo em termos sociais e políticos.
Mesmo em termos discursivos é curioso verificar como há permanências ou estereótipos que se mantêm inabaláveis. Desde os primórdios da civilização grega que a expressão “homem público” constitui um elogio, um encómio, tem uma clara conotação positiva. No entanto, quando se aplica o mesmo adjectivo às mulheres, a coisa muda radicalmente de figura: a “mulher pública” é desde a noite dos tempos, a prostituta que vende o corpo aos homens em troca de dinheiro.
Os sucessivos escândalos políticos que têm sido divulgados nos últimos tempos no nosso país revelam uma outra face destes “homens públicos” que, para mim, em nada difere das tais mulheres ditas “públicas”, pois também eles se vendem por dinheiro (embora as somas em causa sejam substancialmente diferentes).
Dou por mim a pensar que, de uma forma bastante irónica, o sentido do adjectivo “público” para além de estar contaminado com o que de pior é atribuído à sua variante de género (prostituição), tem agora um outro aspecto mais negativo: pelo menos, as mulheres “públicas” assumem-se como tal e, por isso mesmo, ninguém que as procure pode dizer que foi enganado. Já o mesmo não se pode dizer de alguns destes tais “homens públicos”...
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