A voragem consumista que tomou de assalto o mundo dito desenvolvido tornou possível adquirir toda a espécie de bens materiais. Agora, por saciedade, tédio ou quem sabe apenas para testar os limites da nossa própria condição humana, já estamos também a comprar, a vender ou a trocar coisas imateriais como silêncio, consciências, (des)favores, bom senso, louvores, pudor, amor, notoriedade, ganância, juventude, lealdade, honestidade... Por maior ou menor preço é hoje possível comprar o que, não há muito tempo atrás, era pura e simplesmente intransaccionável. Em alguns casos, parece mesmo que até já estão em saldo de fim de estação ou a preço promocional. Coisas que seriam chocantes para muita gente ficam agora na sombra de um silêncio comprometido ou são, de imediato, desviadas para assuntos menos melindrosos, ou mais consensuais.
O homem que no seu pedestal de antifascista, democrata e poeta ninguém calava, nem o próprio partido de que é militante, acaba de dizer que troca a honra de ter uma cátedra com o seu nome na Universidade de Pádua pela vontade de ser o leme democrático do país. É sem dúvida um excelente negócio este, com contrapartidas asseguradas para as duas partes envolvidas.
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