Em meados de Agosto fui ao Festival de Ópera de Óbidos ver La Bohème com a Orquestra do Norte, dirigida pelo Maestro Ferreira Lobo, com lotação esgotada, à semelhança de todos os espectáculos do festival. Chegámos ao fim da tarde, com tempo cinzento, húmido e estranhamente fresco para nós que tínhamos deixado para trás uma temperatura de 40º. Estacionámos facilmente o carro num parque mesmo junto à entrada da vila e, logo ali, diversos vendedores de rua coloriam o ambiente, em bancas devidamente preparadas para eles, oferecendo guloseimas, frutos e licores aos visitantes. Percorremos então as ruas limpas, floridas e acolhedoras à procura de um sítio para jantar. Deparámos com uma grande e variada oferta de restaurantes, bares, cafés, pastelarias, lojas várias de artesanato e produtos locais. Escolhido o local, foi com agrado que verificámos que os empregados eram todos jovens, simpáticos e muito profissionais.
Após o jantar, e para ocupar tempo até ao início do espectáculo, fomos beber uma ginjinha ali mesmo em plena rua. Mais uma vez nos atendeu uma simpática jovem que achou por bem alertar-nos para o frio que se fazia sentir já na cerca do castelo onde iria decorrer o espectáculo, o qual se agravaria com o avançar da noite. E, com efeito, passavam já nesta altura pessoas carregadas com mantas e sobretudos para enfrentar a neblina húmida que rodeava a vila e que parecia anunciar chuva. Era perto das vinte e uma horas e todo, mas mesmo todo, o comércio estava aberto. Perguntámos à jovem se, no fim do espectáculo, lá pela meia-noite seria possível tomar qualquer coisa quente, ou mais uma ginjinha. Respondeu-nos que teríamos muito por onde escolher.
Seguimos para o recinto do espectáculo, cuidadosamente arranjado, casas de banho limpas, posto de venda de mantas (a 20 euros cada uma) que praticamente esgotaram tal era o frio que se fazia sentir em pleno Agosto. De casacos vestidos, enrolados numa manta de lã que levámos (lição aprendida na edição do ano passado), preparámo-nos para assistir ao espectáculo. Fomos informados de que o cantor Carlos Guilherme esta com faringite adquirida na noite anterior durante o ensaio geral e que, por esse motivo a sua voz não tinha a potência e clareza habituais. No intervalo fomos brindados pela organização com flûtes de espumante e bombons de chocolate, gesto simpático que era também já um piscar de olhos ao outro festival emblemático da vila: o do chocolate. Enquanto assistia ao espectáculo, enregelada até aos ossos, não me pude impedir de pensar o quanto tudo aquilo também seria maravilhoso numa cidade como Évora, no cenário do Templo Romano, por uma destas nossas noites de verão, tão amenas e quentes que nem apetece ir para casa dormir...
Terminado a ópera decidimos ir beber um chá quente para contrariar o frio que nos repassava o corpo e verificámos com agrado que a informação dada anteriormente estava correcta: passava já da meia-noite mas pastelarias, cafés e bares estavam abertos para quem quisesse ou precisasse de beber ou de comer. Tão diferente daquilo que acontece por cá.
Acho que a vila de Óbidos soube encontrar nisto dos festivais um nicho muito próprio e distinto de tudo o que se faz por aí - daí o grande sucesso de todos eles -, mas essa sucesso também se deve ao facto de oferecer condições adequadas para receber quem a visita, dentro e fora das datas festivalescas que tanta gente chamam à vila.
Bem diferente daquilo que me aconteceu aqui em Évora, nem sequer à noite, mas numa destas banais tardes de sábado(!?) quando decidi ir comprar bolos de arroz para a minha tia octogenária e desisti ao dar com a sexta pastelaria fechada. Acabei por comprá-los na padaria do Modelo. Foi então que me lembrei que estamos em Agosto, certamente o mais forte de todos em termos de turismo. Como é que isto é possível numa cidade que (sobre)vive justamente disso mesmo. É também por isso que, quando ouço as queixas de que o comércio tradicional está a ser posto em causa pelas grandes superfícies confesso que, às vezes, fico surpreendida.
E se um grande evento como o Festival de Ópera de Óbidos se realizasse por aqui? Onde jantaria tanta gente atempadamente antes do espectáculo? Onde poderiam tomar uma bebida ou comer alguma coisa após esse mesmo espectáculo? Provavelmente só nas roulottes junto à Porta de Avis... e vá lá, vá lá...