quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Metáforas (quase) naturais – V

(Evoramonte, 30/7/2010)

Há em nós um vazio cheio de Nada, provocado pela erosão que as pequenas infâmias e rejeições do quotidiano vão escavando. E o que tantas vezes impede a maré cheia de Nada de transbordar os limites desse vazio e inundar todo o espaço à volta, não é mais do que uma ténue barreira, feita sobretudo de tenacidade e de medo. É que, perante tão poderosa força, nenhum lugar em nós – por mais secreto que seja - está a salvo de ser engolido pelo Nada que habita nesse mesmo abismo.

Porém esta barragem é frágil, toda ela equilíbrio e balanço entre as forças brutas em presença. Talvez por isso nem sempre consiga impedir uma certa osmose através das paredes do vazio que tenta sempre e por todos os meios alargar-se um pouco mais a cada dia que passa.

Apenas podemos esperar que a vida vá preenchendo sempre o espaço à volta com mais e mais coisas capazes de nos surpreender e capazes, sobretudo, de apanhar de surpresa esse Nada que existe em nós, obrigando-o a recuar para o fundo do seu insondável abismo e mantendo-o lá mais mais algum tempo. Nem que seja apenas por mais um dia.

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