Depois de receber insistentes e numerosos convites inscrevi-me no Facebook, mas não me converti. Ou seja, estou lá, mas não sou de lá e nem sequer vivo lá. Digo isto porque uma rede social com 500 milhões de utilizadores e 25 milhões a aderir todos os meses é algo que, além de me impressionar, não deixa também de me assustar. É que eu sempre tive as minhas reticências relativamente às multidões, estejam elas nos estádios, nos comícios, nos festivais de verão ou... no espaço virtual. Sempre me pareceu que muita gente junta no mesmo sítio aumenta e muito as hipóteses de alguma coisa não acabar bem. E a recente tragédia da Love Parade na Alemanha demonstra claramente que os meus receios não são de todo infundados. Aliás, só a simples prática do moche, tão comum nos festivais de música, já me deixa arrepiada. Sou demasiado territorial e ciosa do meu espaço pessoal e integridade física. Por isso um espectáculo em que cada um ocupe o seu respectivo lugar é o ideal para mim. No máximo, admito ficar de pé junto às pessoas mas sempre posicionada de modo a não me me sentir asfixiada. E confesso que o Facebook me faz sentir assim. Então não é que depois de me inscrever comecei a ser bombardeada por toda a espécie de mensagens do tipo “X gosta disto”, “Y enviou-te uma flor”. Não respondi a uma única por considerar que era piroseira a mais para meu gosto. Depois veio a febre do Farmville e perdi a conta ao número de convites que recebi para ser vizinha de alguém, ao número de ovelhinhas e plantinhas que recebi para “plantar” na minha quinta e outras coisas afins. Confesso que, no início, pensei que ninguém no seu juízo perfeito iria aderir a uma coisa daquelas para passar o dia a regar canteiros, a dar de comer aos porcos e a trocar ofertas de boa vizinhança com os parceiros de jogo. Mas enganei-me redondamente.
Qual não foi o meu espanto quando vi que até as funcionárias da escola aproveitavam todos os momentos livres e escapuliam-se para a biblioteca para se poderem ligar à sua adorada “quinta”, trocando conselhos e sugestões umas com as outras e até com os próprios alunos. È curioso pensar que, no início, esta foi sobretudo uma rede social para adultos mas que, graças precisamente ao Farmville descobriu a fórmula mágica de captar o interesse dos mais jovens que, antes, preferiam sem dúvida uma outra rede, o hi-5. E o número de horas que toda esta boa gente passa online a carregar fotografias de toda a espécie e a dizer que gosta disto, daquilo e do outro é absolutamente impressionante.
Claro que já toda a gente percebeu que eu sou do contra e pararam de me enviar piroseiras. Mas ainda recebo de vez em quando uns estranhos pedidos de amizade de pessoas que não conheço de lado nenhum e sobre as quais não faço a mais pequena ideia de quem são ou do que querem. Todos recusados, claro está. Mesmo assim, ainda consigo ter várias dezenas de “amigos” o que, para um bicho do mato como eu, é verdadeiramente extraordinário. Nunca pensei ser capaz de tal proeza, até porque, na vida real, posso garantir que as coisas são bem diferentes. Ou seja, a noção de “amigo” no Facebook é um mundo à parte, claro está, pois só com algum esforço de imaginação se pode conceber que algumas personalidades tenham milhares de amigos na rede e que haja assim uma espécie de corrida para ver quem tem o maior número de “amigos”.
Mas para mim o Facebook tem sobretudo um mérito: as pessoas deixaram de lado o anonimato mais ou menos fictício dos nick-names, tão característicos da blogosfera e do próprio Twitter. De uma maneira geral são quem dizem ser e, no fundo, a rede dos amigos de cada um confirma mais ou menos a sua identidade (descontados os amigos-kamikaze, é claro). Por esta razão o Facebook tornou-se num ponto de re-encontro de pessoas que tinham perdido o contacto umas com as outras, algumas há dezenas de anos. É este o lado bom do Faceook ou, se calhar, o seu lado menos mau. È que tudo o resto me parece às vezes tão artificial que, por diversas vezes, já estive quase a cancelar a minha conta. Mas o certo é que ainda há poucas semanas consegui encontrar uma pessoa com quem precisava falar e de quem não tinha as referências habituais do tlf, tlm, e-mail, etc. E não é que, em poucos minutos, o consegui fazer? Decidi então dar uma nova oportunidade ao 'Livro dos Rostos'. Mantenho-me por lá, pois nunca se sabe quando faz falta encontrar alguém a quem perdemos o rasto no vendaval dos dias. Mas é só.