O verão é tempo de calor, de férias e, cada vez mais, de festivais de música. Estes têm-se mesmo multiplicado a cada ano que passa e temos agora festivais de todo o tipo e para todos os gostos musicais: Sudoeste, Rock in Rio, Super Bock Super Rock, Delta Tejo, Andanças, FMM de Sines, Paredes de Coura, Festival Gótico, Boom, Noites Ritual, Festival de Ópera de Óbidos, e tantos outros. Esta oferta tão diversificada e numerosa tem contribuído não apenas para formar novos públicos, como para apurar as preferências do público já conhecedor.
Por outro lado, o grande impacto, a notoriedade mediática e as dezenas de milhares de pessoas que alguns deles atraem (Sudoeste ou Rock in Rio, por exemplo) generalizaram de algum modo a ideia de que são uma forma de fazer muito dinheiro, o que, está bom de ver, não tem de coincidir forçosamente com a ideia de que se trata de dinheiro fácil. É que a logística envolvida na realização de um evento como este é complexa, desgastante e exigente, sendo que tudo se joga na antecipação (para a contratação das bandas e artistas, por exemplo), na conquista de patrocinadores generosos, na boa e atempada divulgação, na escolha do melhor local, na planificação adequada do recinto e de tudo aquilo que, estando à margem da música em si (alojamento, transportes, alimentação, higiene, merchandising, actividades lúdicas, etc.) não deixa, contudo, de ser decisivo para o maior ou menor sucesso destes festivais, sendo este, aliás, condição indispensável para assegurar a sua continuidade futura.
Não admira também que cada vez mais as câmaras municipais vejam neles uma espécie de 'receita de sucesso' a qual, aplicada localmente em formato mais reduzido e simplificado, lhes permitiria obter diversos benefícios: distrair os putativos eleitores das suas preocupações quotidianas, poupando-lhes o dinheiro de uma deslocação para outras paragens, para os convidar a gastá-lo localmente, nos comes e bebes disponíveis. E, com sorte, atrair ainda algum público das redondezas para 'abrilhantar' o evento e justificar a sua repetição no ano seguinte.Tudo isto, se possível, com um investimento financeiro não demasiado exigente. Por isso recorrem a bandas que fazem agora carreira à sombra de sucessos passados e que servem de chamariz, à mistura com uma ou duas bandas/artistas nacionais residentes nos tops, para dar um ar mais actual à coisa.
Só que não basta pendurar cartazes às centenas um pouco por toda a parte, com dois ou três nomes sonantes, a informar onde e quando são os espectáculos - tudo submetido à designação de “festival” - para que a coisa funcione de acordo com as expectativas. Sobretudo agora que tantos e tantos municípios, de norte a sul do país, vêem neles uma forma de mostrar trabalho e/ou dinamismo sem ter de despender, de facto, muito esforço. É que as receitas funcionam, mas só enquanto são novidade. Depois tornam-se fastidiosas. E aí, ou se muda de receita ou se enfrenta o fracasso, pois quem vê no sítio Y ou no sítio X, o mesmo que no sítio Z, às tantas farta-se. E como não falta oferta – há mesmo fins de semana em que se realizam simultaneamente dois ou três grandes festivais – está bom de ver o que acontece a estas tentativas desastradas de “fazer também o nosso festivalzinho de verão”...
Évora tentou fazer este ano o seu primeiro e supostamente 'grande' festival de verão. Recorreu para isso a uma receita que já colheu noutras paragens (alentejanas e não só) os frutos que havia para apanhar. Poupou dinheiro no grafismo do cartaz e arranjou uma espécie de recinto que, assim à primeira mais se assemelhava a um estaleiro. Tudo isto num fim de semana em que as alternativas de qualidade não faltavam, ainda por cima aqui bem perto (Sines). Como cabeça de cartaz uma banda cujo sucesso nos anos oitenta não lhe garante propriamente um lugar de destaque na história da música pop e artistas nacionais para preencher o resto do tempo. Tudo assim pela bitola mais baixa do esforço e do empenho. O resultado é de todos conhecido e suficientemente comentado aí pela blogosfera local, mas não é de estranhar: é que o público, mais (in)formado e com tão diversificada oferta disponível, também já não cai assim tanto em certas cantigas. Resta saber se haverá alguém com coragem de assumir os encargos de uma segunda edição nos mesmos moldes, até porque os custos, embora possam não ser muito elevados, quando comparados com os de outros festivais, terão em princípio que ser pagos por alguém, caso o público falhe.
Por outro lado, o grande impacto, a notoriedade mediática e as dezenas de milhares de pessoas que alguns deles atraem (Sudoeste ou Rock in Rio, por exemplo) generalizaram de algum modo a ideia de que são uma forma de fazer muito dinheiro, o que, está bom de ver, não tem de coincidir forçosamente com a ideia de que se trata de dinheiro fácil. É que a logística envolvida na realização de um evento como este é complexa, desgastante e exigente, sendo que tudo se joga na antecipação (para a contratação das bandas e artistas, por exemplo), na conquista de patrocinadores generosos, na boa e atempada divulgação, na escolha do melhor local, na planificação adequada do recinto e de tudo aquilo que, estando à margem da música em si (alojamento, transportes, alimentação, higiene, merchandising, actividades lúdicas, etc.) não deixa, contudo, de ser decisivo para o maior ou menor sucesso destes festivais, sendo este, aliás, condição indispensável para assegurar a sua continuidade futura.
Não admira também que cada vez mais as câmaras municipais vejam neles uma espécie de 'receita de sucesso' a qual, aplicada localmente em formato mais reduzido e simplificado, lhes permitiria obter diversos benefícios: distrair os putativos eleitores das suas preocupações quotidianas, poupando-lhes o dinheiro de uma deslocação para outras paragens, para os convidar a gastá-lo localmente, nos comes e bebes disponíveis. E, com sorte, atrair ainda algum público das redondezas para 'abrilhantar' o evento e justificar a sua repetição no ano seguinte.Tudo isto, se possível, com um investimento financeiro não demasiado exigente. Por isso recorrem a bandas que fazem agora carreira à sombra de sucessos passados e que servem de chamariz, à mistura com uma ou duas bandas/artistas nacionais residentes nos tops, para dar um ar mais actual à coisa.
Só que não basta pendurar cartazes às centenas um pouco por toda a parte, com dois ou três nomes sonantes, a informar onde e quando são os espectáculos - tudo submetido à designação de “festival” - para que a coisa funcione de acordo com as expectativas. Sobretudo agora que tantos e tantos municípios, de norte a sul do país, vêem neles uma forma de mostrar trabalho e/ou dinamismo sem ter de despender, de facto, muito esforço. É que as receitas funcionam, mas só enquanto são novidade. Depois tornam-se fastidiosas. E aí, ou se muda de receita ou se enfrenta o fracasso, pois quem vê no sítio Y ou no sítio X, o mesmo que no sítio Z, às tantas farta-se. E como não falta oferta – há mesmo fins de semana em que se realizam simultaneamente dois ou três grandes festivais – está bom de ver o que acontece a estas tentativas desastradas de “fazer também o nosso festivalzinho de verão”...
Évora tentou fazer este ano o seu primeiro e supostamente 'grande' festival de verão. Recorreu para isso a uma receita que já colheu noutras paragens (alentejanas e não só) os frutos que havia para apanhar. Poupou dinheiro no grafismo do cartaz e arranjou uma espécie de recinto que, assim à primeira mais se assemelhava a um estaleiro. Tudo isto num fim de semana em que as alternativas de qualidade não faltavam, ainda por cima aqui bem perto (Sines). Como cabeça de cartaz uma banda cujo sucesso nos anos oitenta não lhe garante propriamente um lugar de destaque na história da música pop e artistas nacionais para preencher o resto do tempo. Tudo assim pela bitola mais baixa do esforço e do empenho. O resultado é de todos conhecido e suficientemente comentado aí pela blogosfera local, mas não é de estranhar: é que o público, mais (in)formado e com tão diversificada oferta disponível, também já não cai assim tanto em certas cantigas. Resta saber se haverá alguém com coragem de assumir os encargos de uma segunda edição nos mesmos moldes, até porque os custos, embora possam não ser muito elevados, quando comparados com os de outros festivais, terão em princípio que ser pagos por alguém, caso o público falhe.