A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
E eu tomo a liberdade de acrescentar:
De ver esta maravilha:
O casal de melros, de penas lustrosas e bico amarelo, residente há já vários anos (pelo menos três) nas grandes árvores do espaço ajardinado da escola e que, apesar das implacáveis e ruidosas máquinas da ParqueEscolar, da lama e do pó, do movimento humano inusitado, encontrou um refúgio, até agora seguro, nas três árvores de um estreito separador de relva, situado no exterior, mas paralelo ao gradeamento. Quando as obras se iniciaram tive receio de que se fossem embora ou sofressem algum descaminho. Mas não. Encontro-os regularmente a tratar da vida, indiferentes à confusão de máquinas e homens, logo ali ao lado. Ainda agora vinham à minha frente - estão já habituados à presença humana - avançando aos pulos pela relva, a piar suavemente.
A capacidade de adptação e perseverança que estes dois pequenos seres revelam é extraordinária. Comovente até. Quero acreditar que se sentem sobretudo felizes por, apesar do bulício, poderem festejar juntos o sol e a abundância que lhes permitirá criar facilmente a prole deste ano.
É este campeonato dos melros versus modernização das escolas, que bem poderia ser o combate de David contra Golias, que desperta a minha atenção e tem o meu apoio incondicional. E, se o indefeso David ganhar, como espero, não me esquecerei de dizer ao jovem engenheiro responsável pelo imenso estaleiro de obras que nos provou a todos ser afinal possível modernizar sem estragar. Ao menos isso.
2 comentários:
Dois dos meus pontos fracos: Torga e passaros.
Parabens ao arquitecto pelo cuidado e a si pela partilha.
Fico contente por ter gostado e tembém por saber que, como eu, gosta de Torga e de pássaros.
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