O DN de hoje traz um artigo sobre prostituição de rua. Uma das entrevistadas queixa-se a certa altura de que, por causa da crise, há menos homens/clientes e os que aparecem discutem muito mais o preço pedido. O regateio termina com frequência em chantagem: muitos clientes só aceitam pagar o preço pedido se o sexo for feito sem preservativo. E muitas vezes, pressionadas por necessidades financeiras de vária natureza, as mulheres acabam por aceitar esta espécie de roleta russa, na qual mais do que o dinheiro (segundo o jornal as verbas pagas variam entre 15 e 30 euros), está em jogo a sua própria vida.
Perante tal informação, eu diria que estamos aqui confrontados, não com um dos aspectos da crise, mas sim com uma das muitas faces da miséria humana, tornada mais visível e despudorada pela crise que estamos a atravessar. Estamos bem longe das fantasias erótico-fílmicas que povoam por aí muita página de internet e muita cabeça leviana (ou mesmo oca), e a pisar o pavimento escorregadio da infâmia e da sordidez humanas, a que também se costuma chamar realidade: por um lado, a das mulheres que, por dinheiro, são forçadas, cada vez em maior número (o próprio DN traz diariamente várias páginas de anúncios dedicadas a isto mesmo), a vender o corpo para sobreviver;uma das prostitutas entrevistadas diz mesmo à jornalista: “São nojentos, todos. Há novos e velhos. Advogados, juízes, polícias e militares”; por outro lado, a dos homens que acham que podem comprar sexo a preço baixo (como quem compra um pacote de leite no supermercado, comparando os preços das várias marcas) e com um bónus suplementar: o de que a SIDA e afins "só acontecem aos outros".
Claro que, no fim, seremos todos nós, enquanto sociedade, a pagar – e de muitas maneiras, algumas até bastante subtis - os elevados custos das consequências desta clara degradação humana e sócio-económica.
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