Três investigadores norte-americanos – Jeffrey Dyer, Clayton Christensen e Hal Gregersen – estudaram alguns dos empresários e executivos mais bem sucedidos do mundo – Steve Jobs da Apple, Pierre Omidyar da eBay, Jeff Bezos da Amazon entre muitos outros – para perceber o que é que os transformou e às suas empresas em líderes de inovação e de mercado.
No final desse estudo, a que deram o título de “O ADN do Inovador” descobriram que todos tinham em comum certos traços de personalidade que se resumem em cinco palavras: associar, questionar, observar, experimentar, estabelecer relações com o outro. Mas a descoberta mais interessante é que essas cinco qualidades de pensamento/acção dos líderes da inovação mundial se assemelham, e muito, à forma de raciocinar e de agir de uma criança de quatro anos. Estes empresários inovadores, ou mesmo excêntricos, observam o mundo colocando-se de fora, são capazes de associar ideias ou temas aparentemente díspares e sem sentido; demonstram uma curiosidade ilimitada e não têm medo de fazer perguntas, mesmo que, para a generalidade dos adultos, às vezes elas pareçam não fazer sentido. Também costumam fazer cursos ou praticar coisas aparentemente desnecessárias ou nos antípodas das funções que exercem. Só que fazem tudo isto com uma intenção, e isso é o que os distingue das verdadeiras crianças de quatro anos.
Em suma, são pessoas capazes de pensar de forma criativa a partir da observação atenta dos outros e dos mundo que os rodeia. São pessoas que detectam novas possibilidades, novas maneiras de fazer e de ver as coisas e que facilmente estabelecem relações sociais muito diversificadas (“networking”) que lhes abrem perspectivas também elas diferentes e diferenciadas. Em muitos destes homens e mulheres a capacidade de inovar é inata, mas muitos deles desenvolveram-na a partir da experiência e da aprendizagem.
Assim, os autores do estudo concluiram que também é possível aprender a ser inovador e criativo. Curiosamente, descobriram até que a maior parte dos grandes empresários americanos frequentaram escolas Montessori, o que não será, certamente, uma coincidência. Concluiram ainda que o estímulo e apoio dos pais foi muito importante também. Hal Gregersen diz mesmo que a boa pergunta a fazer a uma criança quando chega da escola não é “o que é que aprendeste hoje? ou “o que é que fizeste hoje?” e sim “que perguntas fizeste hoje na escola?” ou “que perguntas não tiveste possibilidade de fazer?”. Mas Gregersen sublinha ainda que não adianta pôr as crianças a ter ideias inovadoras se, depois, ao nível político e económico, não forem criadas as oportunidades estruturais e disponibilizados os capitais de risco necessários para as pôr em prática.
Até pode ser que sim, porém entre nós não só não é assim, como não se perspectivam grandes mudanças no horizonte temporal mais próximo. Não apenas porque não há dinheiro para isso, mas também porque, mesmo que o houvesse, mudar as mentalidades é sempre o mais difícil. Alterar os currículos escolares, não. Na verdade, esses até são substituídos com alguma frequência, embora nem sempre se consiga perceber muito bem porquê e, sobretudo, para quê. E, aliás, o cúmulo de permissividade e de indigência mental a que a escola portuguesa chegou bem o demonstram (e isto nada tem a ver com as estatísticas, pois essas fazem parte de uma outra história, bem contada e melhor inventada). E também porque, na actual conjuntura económica global, as oportunidades são cada vez menos e cada vez para um número mais reduzido de indivíduos e de empresas, como também já se percebeu. Portanto, se não mudámos quando o mundo era mais fácil, e talvez até mais maleável, também não me parece que agora, quando esse mesmo mundo vive mergulhado na incerteza e na hostilidade de uma competitividade económica implacável, o consigamos fazer. O mais provável é que continuemos a navegar nas turvas águas da pequenez que nos caracteriza desde há várias décadas, num mundo que, também ele, está cada vez mais selvagem e mais hipócrita.
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