Assisti ontem, enquanto tive paciência para isso, às cerimónias de comemoração do 10 de Junho, Dia de Portugal, etc e tal: as grandes figuras do Estado todas com um ar muito sério e compenetrado, alguns até com cara de quem estava a fazer um frete daqueles, aqui se destacando claramente o primeiro-ministro.
Contudo, acho que faz cada vez mais sentido pensar na criação de um novo feriado nacional (ai o PIB!): o Dia da Natalidade. É que, no ano passado, nasceram em Portugal menos de cem mil crianças e a taxa de mortalidade (9,8%) superou a de natalidade (9,4%).
Dado que a taxa de natalidade também se pode analisar como um indicador da situação económica e social dos países, e tendo em conta também a grave crise que estamos a atravessar, não é de prever que o índice de fecundidade possa subir significativamente nos próximos anos. Mesmo que se tomassem já agora grandes medidas políticas de incentivo à natalidade, os seus efeitos, forçosamente, só se fariam sentir a médio e longo prazo. E, em Portugal, na verdade, muito pouco tem sido feito para prevenir ou melhorar a situação demográfica do país, por isso, a situação só se poderá agravar nos próximos anos.
Somos já, verdadeiramente, um “país de velhos” uma vez que, por cada 100 jovens, existem 118 idosos. Segundo os especialistas somos até um país duplamente “velho”, porque nascem menos crianças e porque a esperança de vida à nascença é cada vez maior. E quando pensamos que a taxa de activos foi, também em 2009, de apenas 66,9%, a situação ganha contornos bastante mais graves ainda, com consequências para o futuro desses mesmos activos.Teremos forçosamente que “importar” população em idade activa e fértil, se quisermos manter a sustentabilidade demográfica e social do país.
É que, por este andar, muito em breve não falaremos apenas do número crescente de espécies animais e vegetais em risco de extinção, começaremos também a elaborar a listagem de países que correm idêntico risco. É por isso que celebrar o Dia da Natalidade, de preferência em data anterior ao 10 de Junho – Dia de Portugal –, começa a fazer todo o sentido. É que, sem população, não há nação. E já estou mesmo a imaginar milhares de pessoas num grande espaço aberto, os nossos (des)governantes com sorrisos extáticos a acenar, a dar beijinhos em centenas de crianças, a cumprimentar os babosos pais e mais os felizes avós, a fazer 'cutchi-cutchi' no queixo dos bébés recém-nascidos, a distribuir generosas ofertas patrocinadas por múltiplas empresas - cheques, fraldas, brinquedos, vales de compras para leite em pó, etc. etc. - palhaços, coloridos balões por todo o lado, as televisões todas em directo, frenéticas a fazerem entrevistas e com comentadores em estúdio a opinar sobre o que se está a passar... Enfim, uma festa que faz tanto sentido como qualquer uma dessas que se realizam por esse país fora, parece-me.
E já agora, como se avizinham, também por estes dias, os pirosos “casamentos de Santo António” os quais, na sua grande maioria, devem terminar em divórcio, talvez fosse mais útil transformá-los mas é em “baptizados de Santo António”.
E já agora, como se avizinham, também por estes dias, os pirosos “casamentos de Santo António” os quais, na sua grande maioria, devem terminar em divórcio, talvez fosse mais útil transformá-los mas é em “baptizados de Santo António”.
(Estatísticas INE - DN, 10/6/2010)
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