Já perdi a conta ao número de vezes que alguém me coloca no pára-brisas do carro um pequeno quadrado de papel impresso a preto e branco, assim com um aspecto de fotocópia estafada, a fazer publicidade a um certo “Professor D.”. Começo logo por não entender muito bem o porquê desta designação de “Professor”. Será que o homem dá aulas em alguma escola? E de que disciplina? Ou estará ele, por desconhecimento, a usar o título pensando que alguém ainda dá algum valor a tal profissão? O mais provável é não saber que a condição de professor anda aí pelas lamas da amargura e que o melhor seria arranjar um outro título. Cá por mim sugeria o de “engenheiro" porque transmite logo a ideia de competência técnica associada à inovação, coisa muito importante nos tempos que correm.
Certo, certo é que, apesar de ser “Professor”, o homem não poupa nos elogios e, de imediato, se auto-qualifica como “Ilustre espiritualista” e “Grande vidente”. Por aqui se vê logo que de falsa modéstia ninguém o poderá acusar!
Mas o mais espantoso vem a seguir e diz respeito à enumeração exaustiva dos problemas que o tal “Professor D.” afirma ser capaz de resolver pois, ainda segundo o tal anúncio, “O mais importante da astrologia é obter bons resultados, rápidos e garantidos a 100%.”. Esta segunda parte da frase assemelha-se muito ao que se costuma escrever nos tratamentos de emagrecimento ‘milagrosos’ que se anunciam e vendem um pouco por toda a parte. Não fiquei, pois, surpreendida quando na última frase do texto ele escreve “Faz emagrecer e engordar.” Só podia!
E afirma-se depois “Dotado de poderes” tais que “ajuda a resolver problemas difíceis ou graves em sete dias” (nem mais um!): amorosos (“Amor”, “Casamento”, “Aproxima e afasta pessoas Amadas com rapidez total”); financeiros e profissionais (“Insucessos”, Negócios”, Sorte nas candidaturas”); psíquicos/psicológicos (“Depressões”); sexuais, mas de um tipo apenas: “Impotência sexual”. O tal “Professor D.” é tão bom que promete resolver um dos grandes flagelos da justiça portuguesa: as “Injustiças”. Tem até poderes para solucionar algo tão vago como “Doenças Espirituais” (só a designação ma dá um arrepio na espinha!) ou coisas tão suspeitas e misteriosas como “Maus olhados” (longe vá o agoiro!). Sobretudo, tem poderes tão grandes que consegue fazer uma coisa e o seu contrário, a pedido do cliente: “faz emagrecer e engordar”; “Aproxima e afasta pessoas”.
Resolve mesmo problemas relacionados com o “Desporto”. Interrogo-me desde já sobre as razões que levaram a selecção de futebol a partir para a África do Sul sem a companhia de tão ilustre personagem mas, pensando melhor, tão grandes poderes devem funcionar mesmo à distância. O texto termina com uma frase a negrito “Facilidades de pagamento”. Ao que parece, a famigerada crise financeira também já chegou aqui, mas há sempre maneiras de contornar a situação.
Agora, havendo a indicação de que tudo é resolvido “em 7 dias” fica-me uma dúvida: e se o cliente não ficar satisfeito? Ou se, no fim do prazo, o problema não estiver resolvido? Como é? Devolve o dinheiro? De qualquer forma o “Ilustre espiritualista” defende-se logo à partida destas pequenas contrariedades afirmando que “ajuda a resolver”, o que é bem diferente de escrever “resolve”, claro está!
Consulta num horário alargado, “das 9 às 21 horas” e, nos tempos que vivemos, não tenho dúvidas de que, clientes, é que não lhe devem faltar. É que o desespero leva muitas vezes as pessoas a fazer coisas como esta e outras ainda.
Agora, o que me incomoda sempre um pouco é pensar que, havendo tanta gente no mundo com tamanhos poderes e capacidades - os jornais trazem dezenas de anúncios semelhantes –, como é possível que o número de pessoas confrontadas diariamente com problemas graves ou de muito difícil resolução, em vez de diminuir, aumente a toda a hora. Vá lá a gente perceber isto!
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