Agora que tenho a carta de condução medicamente apreendida por algum tempo, fui forçada a procurar meios alternativos de transporte para a minha deslocação diária. Assim, optei pelo que me pareceu mais óbvio: o táxi. Tudo correu bem até à passada 6ª feira quando, ao fim da manhã, apanhei um junto ao hospital. O motorista tinha já alguma idade e, assim à primeira vista, pareceu-me ser ma pessoa pacífica. Só que umas dezenas de metros à frente comecei a perceber que tinha tirado conclusões precipitadas.
Forçado a seguir atrás de um veículo conduzido a uma velocidade que me pareceu adequada à sinuosidade da ruas do centro histórico, o taxista começou repentinamente a vociferar: “penteiam-se, falam ao telemóvel e os outros que se aguentem!”. Às tantas, de tão concentrado que ia a tentar fuzilar com o olhar o condutor da frente, o taxista descuidou-se e, como a rua era muitíssimo estreita, bateu com o espelho lateral no poste da sinalização rodoviária. Por sorte, dobrou, mas não quebrou. Foi neste preciso momento que comecei a ficar deveras alarmada com a expressão quase assassina no rosto do homem: o dia não devia estar a correr-lhe nada bem, ou talvez até a vida toda não lhe tivesse corrido da melhor forma. A tal ponto que achei melhor manter o silêncio, não fosse o homem ter um acesso de raiva ainda maior, agora contra a minha pessoa.
Uma vez saído da rotunda, o taxista furou o trânsito pela faixa esquerda e carregou a fundo no pedal pela via de circunvalação fora. Em escassos dois minutos, ou talvez nem isso, já estava a travar a fundo para fazer a rotunda seguinte. Colada ao banco, agarrei-me com todas as forças à pega da porta para tentar não ser projectada para fora do veículo pelo impulso da rápida desaceleração e pelo verdadeiro turbilhão de ar que entrava pelas janelas, todas completamente abertas. No troço seguinte, a situação repetiu-se e, como a extensão a percorrer era ligeiramente maior, a carro atingiu uma velocidade ainda superior. E eu já só me lembrava do anúncio do Nuno Markl para a TMN: vou usar o meu acesso de internet móvel para ficar amigo de um taxista durante a viagem, com direito a ouvir música experimental da República Checa e oferta de uma pizza, entre outros mimos. Ao princípio, quando começou a passar na televisão, eu não percebi lá muito bem a ideia. E agora, numa fracção de segundos, tinha-se feito luz no meu espírito: o objectivo era amansar a fera e salvar a vidinha, claro está! Mas, para minha aflição, não tinha comigo nem acesso de internet, nem pc, nem sequer mão disponível para fazer uma simples chamada de telemóvel a pedir socorro, pois tinha ambas engalfinhadas na tentativa de me segurar e manter dentro do carro. Felizmente, a terceira parte do trajecto, depois de contornar mais uma rotunda, era mais curta e tinha fila de trânsito, o que forçou a feroz criatura a reduzir a velocidade. Contornada a última rotunda, o homem começou então a subir a Rua da Lagoa e, logo ali, o meu destino final. Uff!! Paguei a viagem e respirei de alívio por estar sã e salva, embora com um penteado um tanto estranho!
Enquanto me dirigia a casa lá voltei ao anúncio da tmn, no qual o Nuno Markl, apesar do esforço e dos artefactos tic, acaba por não conseguir concretizar os seus objectivos. E concluí que, se nem ele conseguiu “ficar amigo do taxista em fúria” é porque esta é mesmo uma missão impossível. E, no meu caso, até muito dispensável. Por isso nos tempos mais próximos, taxis, nem para fazer anúncios da tmn (da qual, ainda por cima, não sou cliente). Converti-me logo ali ao autocarro azul: não sei se polui menos, não sei se é mais cómodo mas é, de certeza, menos assustador e bem mais barato. E aconselho o Nuno Markl a fazer o mesmo quanto antes.
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