Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.
Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.
Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
- Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!
José Régio, Poema do silêncio (excerto)
Sim, foi por mim que escrevi como quem grita ou como quem chora. Foi por mim que atirei palavras como quem atira pedras contra os limites da página, de dentes cerrados e mãos crispadas. Foi por mim que abri palavras para ver como eram e o que tinham escondido no seu interior. Foi por mim que usei as palavras como quem toma um banho prolongado para se sentir mais limpo por dentro. Foi por mim que escrevi todos os dias, para que as palavras fossem absorvendo a dor até deixarem apenas o vazio de tudo e de todos.
Sim, de facto, foi por mim que escrevi todos os dias. Não para me redimir, mas para me reerguer.
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