Quando vivia em Portugal era conhecido apenas como “Mourinho”. Trabalhou, obteve resultados e ganhou a notoriedade que lhe permitiu virar as costas a isto tudo. Em Inglaterra tornou-se conhecido como “the special one”. Seguiu depois para Itália onde começou por ser “il speciale”, mas depressa viria a tornar-se “il geniale”. Espanha é o seu próximo desafio e as teorias do desenvolvimento cognitivo explicam claramente a importância do conceito “desafio” para o crescimento e desenvolvimento de alguém que pretende continuar a ser o melhor.
Eu acho que José Mourinho é acima de tudo “um profissional” que sabe o que faz e o que quer e, sobretudo, sabe como, quando e o que deve fazer para conseguir alcançar os objectivos a que se propõe. Tem a sorte de poder trabalhar lá fora, em países que sabem reconhecer, apreciar, desafiar e valorizar o bom trabalho e quem o realiza.
Por cá, sempre que ouvimos falar de produtividade, de eficácia e de eficiência ficamos com a impressão de que isto é tudo uma cambada de malandros e de incompetentes. Ora não é bem assim: há em todos os sectores de actividade bons profissionais, responsáveis e cumpridores. Só que são sistematicamente menorizados, subalternizados, dispensados e desvalorizados. E em favor de quê? De oportunistas cuja máxima habilitação é o cartão do partido e a rede de conhecimentos e influências mesquinhas que lhe está associada, de escroques ao serviço de interesses espúrios e duvidosos, de gente sem escrúpulos que se serve a si mesma e se borrifa para o bem comum e para a “coisa pública”, pois quando isto rebentar tèm o (nosso) dinheiro a salvo em off-shores.
Além disso, também não convém dar visibilidade aos bons profissionais, pois assim torna-se mais óbvia a mediocridade desta gente que, quase sempre, ocupa lugares de chefia, o que implica tomar decisões importantes e com consequências (tantas vezes bem negativas para a vida de muitos de nós), nomeadamente a própria avaliação e promoção nas carreiras de quem é mais competente do que eles próprios (e aqui nem vale a pena dizer muita coisa sobre o que costuma acontecer).
Vivemos hoje num país em que o reconhecimento profissional só se consegue por duas vias: a filiação no partido do poder ou a emigração. José Mourinho escolheu a segunda. Tem a minha admiração pessoal por isso, pois não são muitos os que têm essa coragem.
Bem podem vir painéis de especialistas explicar até cairmos todos de exaustão que é preciso fazer mais isto e mais daquilo, cortar aqui e racionalizar além. Não passam de palavras vãs, sem qualquer efeito prático. è que, no essencial, ninguém quer mexer, ou seja, na mediocridade, pois essa é que garante aos incompetentes os bons lugares que ocupam e, enquanto isso não mudar, pouco mais se poderá fazer.
José Mourinho é, lá fora, a excepção que, infelizmente para todos nós, confirma a regra cá dentro: trabalha bem e tem, por isso, o justo e merecido reconhecimento.
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