sábado, 16 de janeiro de 2010

Improvável blogodiálogo

Neste espaço de todos os possíveis, assim como quem está sentado numa esplanada de verão à conversa com amigos, alguém pergunta para que servem a poesia e os livros. Interrogação quase tão antiga como a própria escrita, já respondida milhares de vezes, mas sempre em renovada inquietação.

De imediato, Julián Carax reproduz uma frase que tinha lido há pouco tempo no livro A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón e que nunca mais esquecera: “Os livros são espelhos: só se vê neles o que a pessoa tem dentro.”.

Logo depois, Mario Jiménez, que tinha conhecido e convivido com Pablo Neruda, quando diariamente lhe entregava o correio na Ilha Negra, contou que, numa das suas muitas conversas sobre o que era e como se fazia poesia, o chileno lhe havia dito uma coisa que ele também nunca mais tinha esquecido: “A poesia não é de quem a escreve, mas de quem a usa.”

José Fanha, que bebia sossegadamente o seu café, diz então que, para ele, a poesia é fundamental, porque “agarrados a um verso podemos sobreviver às intempéries da vida”. Acha até que a melhor prenda que se pode dar a alguém é um verso que possa confortar, como um amigo verdadeiro.

É agora a minha vez de falar e faltam-me as palavras exactas. Contudo, digo que, para mim, o mais fascinante é a capacidade que os poetas têm de dizer exactamente aquilo que eu também já senti, mas que sou incapaz de traduzir em palavras. Acrescento que, como leitora, sinto sempre uma grande emoção quando encontro pedaços de mim nos textos e nos livros que vou lendo. É por isso que me aproprio tantas vezes das palavras alheias e as faço também minhas. São elas que me ajudam a suportar e a superar muitos dias difíceis.

Carax sugere logo ali que brindemos à poesia e aos livros por onde os pedaços da nossa alma andam dispersos, mas não perdidos, na esperança de que um dia sejamos sábios o suficiente para conseguir refazer o puzzle do nosso ser. Essa será a mais inesquecível de todas as histórias, o mais belo de todos os poemas.

No centro da mesa os copos tilintam em uníssono e, por alguns instantes, cada um fica a sós com os seus pensamentos…