domingo, 10 de janeiro de 2010

Mrs. Robinson

O caso dos (des)amores de Mrs. Robinson tomou de assalto jornais e noticiários europeus e fez-me lembrar, desde logo, a Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade:

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Claro que os favores financeiros ao jovem empresário são a única e grande vergonha pública deste episódio, uma vez que a deslealdade para com o marido é assunto privado e de consciência individual a resolver noutro contexto. Goste-se ou não, Mrs. Robinson mostrou sobretudo que, aos 60 anos, está bem viva e dotada de um espírito aberto, o que não é fácil de engolir, seja na Irlanda, seja em qualquer outro país, até no nosso. Contudo, os media ainda não estão saciados e escavam agora afincadamente o passado da senhora, à procura de outros episódios suculentos, naquilo que deve ser o equivalente moderno mais próximo de ser queimada viva ou apedrejada em praça pública.

E se tudo isto tivesse acontecido exactamente assim, mas com Mr. Robinson e uma jovem modelo de 19 anos, também seria descrito neste tom vexatório e classificado de “vergonhoso para baixo" em todos os jornais? Tenho algumas dúvidas...