O Amor é cego, porquê?
Imagem retirada de Barros de Estremoz
de Joaquim Vermelho
de Joaquim Vermelho
A resposta literal dirá que O Amor é cego é um dos bonecos mais curiosos da barrística popular de Estremoz. Não é mais do que a representação simbólica da figura mitológica de Eros ou Cupido: porte garboso, com a aljava das setas incendiárias junto ao peito (curiosamente em forma de coração para reforçar a ideia de que simboliza o enamoramento) e de olhos vendados para melhor acertar no alvo (ou talvez não).
Uma outra resposta, bem mais dramática e subtil, poderia ser esta Fábula Antiga de António Feijó:
Uma outra resposta, bem mais dramática e subtil, poderia ser esta Fábula Antiga de António Feijó:
No princípio do mundo o Amor não era cego;
Via mesmo através da escuridão cerrada
Com pupilas de Lince em olhos de Morcego.
Mas um dia, brincando, a Demência, irritada,
Num ímpeto de fúria os seus olhos vazou;
Foi a Demência logo às feras condenada,
Mas Júpiter, sorrindo, a pena comutou.
A Demência ficou apenas obrigada
A acompanhar o Amor, visto que ela o cegou,
Como um pobre que leva um cego pela estrada.
Unidos desde então por invisíveis laços,
Quando o Amor empreende a mais simples jornada,
Vai a Demência adiante a conduzir-lhe os passos.
in Sol de Inverno, 1922