Num dos Papéis do Gabiru, datado de 20 de Novembro, encontro a descrição perfeita destes dias duros de Inverno: Chove um dia, outro dia, sempre. Amanhece um dia nublado, outro dia alvorece áspero e negro. O vento abala a pedra sobre que é construído o casebre. O Inverno tem a sua voz própria, a sua cor, o seu vestido em farrapos com que agasalha os montes deixando-lhes os ossos de fora. Mas o Inverno é sonho. Só agora o compreendo. É sonho concentrado: sob esta casca ressequida está uma Primavera intacta.
in Húmus, Raul Brandão