Sobre as mulheres Herberto Helder diz que
“...têm uma assombrada roseira
fria espalhada no ventre.
Uma quente roseira às vezes, uma planta
de treva.
Ela sobe dos pés e atravessa
a carne quebrada.
Nasce dos pés, ou da vulva, ou do ânus –
e mistura-se nas águas,
no sonho da cabeça.
As mulheres pensam como uma impensada roseira
que pensa rosas.
Pensam de espinho para espinho,
param de nó em nó.
As mulheres dão folhas, recebem
um orvalho inocente.
Depois sua boca abre-se.
Verão, outono, a onda dolorosa e ardente
das semanas,
passam por cima. As mulheres cantam
na sua alegria terrena.(...)”
In Lugar/III
Sobre mim digo que cumpri hoje mais uma etapa – a derradeira - de preparação do canteiro. Agora só falta chegar o jardineiro e, com o bisturi, podar a assombrada roseira fria espalhada no ventre. Assim, quando a onda dolorosa e ardente das semanas me tiver passado por cima, espero poder cobrir-me novamente de folhas verdes.