No Brasil há calor, sol, e samba para todos os gostos, do ritmo exuberante e opulento dos desfiles de vedetas no sambódromo, às favelas dos morros do Rio de Janeiro, onde as crianças se requebram de forma tão espontânea e natural que parecem já ter nascido a sambar. O Carnaval é, no Brasil, quase uma força da natureza que tudo transfigura por alguns dias. É preciso ir lá, certamente, para sentir, ver e viver tudo aquilo.
Mas na impossibilidade disso, ser levada lá pelos olhos e pela música de Chico Buarque, para mim, também serve perfeitamente.
E depois há Portugal, debaixo de sucessivas vagas de mau tempo, com massas de ar polar a atravessar o país e temperaturas muito mais baixas do que o normal para a época, já de si fria. Na televisão lá vão mostrando os cortejos carnavalescos que, de norte a sul do país, imitam o Brasil, com as meninas despidas a sorrir e a dizer para as câmaras que não sentem frio nenhum (e nós mesmo a ver que não, que não têm frio algum!), e com o povo a assistir, abrigado debaixo dos guarda-chuvas, todo embrulhado em mantas, numa tentativa patética de evitar a hipotermia. Poderia ser apenas ridículo, mas é, sobretudo, triste, daquela “tristeza contentinha” de que falava o O’Neill.