Hoje, não falemos do silêncio que apenas deixa entrar na casa os sons vindos da rua: a buzina apressada de um carro na estrada distante, os latidos do cão no quintal vizinho, o assobio do vento nos ramos do grande eucalipto junto à casa, o arrulho dos pombos que se cortejam durante horas na chaminé da cozinha...
Não falemos desta dor mansa que rói por dentro e escava pequenos túneis na alma como o bicho na madeira, deixando apenas no rosto um fino rasto de lágrimas inúteis.
Não falemos das palavras ditas nos encontros premeditados pelo quotidiano, cheias só de aparência, mas que, desprovidas de sentido e de verdade, ecoam como uma grande sala vazia.
Não falemos destas quatro paredes que cercam a solidão e se fecham sobre ela.
Não falemos...