domingo, 7 de fevereiro de 2010

Portugal em fogo lento

Quase todos conhecemos, apenas da teoria ou, se calhar alguns também da prática, a experiência da rã que, colocada no copo com água muito quente, salta imediatamente, mas que, se for colocada em água fria e depois levada a lume brando, acaba por morrer cozida já que a sua reacção ao aumento da temperatura é como que anulada pela progressiva habituação do organismo ao aumento gradual da temperatura.

Ora esta cruel experiência animal bem pode ser aproximada à representação de Jerónimo Bosch, para constituir a parábola dos dias que vivemos: Portugal transformado num caldeirão cuja água já está bem mais do que tépida e onde começamos todos a sentir algum incómodo.


O problema é que, mesmo percebendo que é preciso dar o salto para salvar a vida, a esmagadora maioria não vai fazê-lo porque:
não pode, não quer, não está para isso, não quer saber, ainda não deu por nada, acredita que alguém, ou algo, vai apagar o lume antes do ponto de cozedura, acredita que tudo acabará bem, não acha possível que façamos isto ao nosso próprio país e povo, vai acontecer um milagre, é o nosso fado, é a crise internacional, a UE não deixa ferver o caldeirão, se sente bem instalada, tem muito a perder, não consegue ou não tem força de vontade, etc. etc.

Sempre quero ver é o que vai acontecer quando a água começar mesmo a ferver...