sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O tempo, esse "brincador"

3.
As tartarugas fazem muitos anos,
mas devagarinho.
Sei de uma que faz hoje anos
e ainda vem a caminho.

Quando chega aos anos que fez,
os anos já lá não estão.
Às vezes já falta pouco
para os fazer outra vez.

Qual era a pressa? O que é isto?
Pergunta ela, espantada.
Os anos são um vento que nos mata
sem darmos por nada.
Quanto mais os fazemos
mais eles nos fazem a nós.
É preciso ver que depois morremos
E não há mais nada a fazer.
Estamos feitos.

7.
Os anos que fazemos
também nos fazem a nós.
Os anos que fizemos nos fizeram.
Os anos que faremos nos farão.
É de anos que somos feitos,
de breve e misterioso tempo.
Em nós estão os anos que já fomos.
Esses anos que fizemos, somos nós,
do cimo da cabeça até à ponta dos pés.
Quanto tempo somos?
Quantos anos és?

De que é feito o tempo que nos faz?
Quanto tempo há?
Para onde vai o tempo que já foi?
Onde está o tempo que virá?

Álvaro Magalhães, Aniversários (excertos), in O Brincador