terça-feira, 28 de setembro de 2010

Anos, planos, danos e (des)enganos

Eu já não sou do tempo de fazer anos. Julgo até que, nestes últimos tempos, são os anos que me (des)fazem a mim. A palavra “aniversário” tornou-se como que uma amálgama de “anos adversários”. Ou, como tão bem diz o poeta:

Os anos são um vento que nos mata
sem darmos por isso.
Não servem para mais nada.
Quanto mais os fazemos
mais eles nos fazem a nós.
É preciso ver que depois morremos
e não há mais nada a fazer.
Estamos feitos.

Na verdade,

Os anos que fazemos
também nos fazem a nós.
Os anos que fizemos nos fizeram.
Os anos que faremos nos farão.
É de anos que somos feitos,
de breve e misterioso tempo.
Em nós estão os anos que já fomos.
Esses anos que fizemos, somos nós,
do cimo da cabeças até à ponta dos pés.
Quanto tempo somos?
Quantos anos és?

De que é feito o tempo que nos faz?
Quanto tempo há?
Para onde vai o tempo que já foi?
Onde está o tempo que virá?

Álvaro Magalhães, “Aniversários” (excertos), in O Brincador, Ed. Asa