domingo, 19 de setembro de 2010

Metáforas (quase naturais) - VIII

Azaruja, 18/9/2010
A mesma e esfomeada vida que nos vai abocanhando nacos da alma é a que vem depois, aos gritos, incitar-nos a continuar a caminhada para não nos consumirmos na gangrena da dor. E nós, ainda que feridos de morte, lá retomamos a fuga para a frente, movidos apenas pela adrenalina da sobrevivência e do dever até ao dia em que, esgotadas de vez as forças, nos deixemos resvalar lentamente pela encosta abaixo:

“Que nossa vida é sonhar,
E a morte despertar
Para nunca mais dormir
Nem acordar.”

Gil Vicente, Auto da Barca do Purgatório