A palavra dita é por vezes desajeitada na sua espontaneidade, rude na sua impulsividade, inexacta na sua pressa. Vale tanto pelo que diz, como pela forma como é dita, talvez até mais por esta. Quando confusa ou precipitada, carece muitas vezes de clarificação, às vezes até de justificação. Tem, por isso e quase sempre, volta atrás. Contudo, vê-se muitas vezes enfraquecida, senão mesmo emudecida, pelo fluxo contínuo e ruidoso da comunicação oral. Talvez por isso, muitas vezes, apesar da sua dureza ou da sua assumida intenção de ferir, se limite apenas a deixar uns arranhões dispersos que, embora possam ser incómodos, não são de modo algum fatais.
Bem diferente é a palavra escrita. Mais depurada no conteúdo e apurada na forma, ganha em poder elocutivo o que perde às vezes em espontaneidade. Troca a impulsividade pela intencionalidade, o que lhe garante uma maior frieza e, por isso também, uma maior eficácia comunicativa. O fluxo textual confere-lhe força, tornando-a porta-voz da sua própria identidade semântica. A sua maior racionalidade permite-lhe abrir feridas profundas, dolorosas e por vezes mesmo fatais. Materializada na escrita a palavra torna-se, de certo modo, definitiva. Até pode estar sujeita a interpretações diversas, mas dar o escrito por não-escrito não é possível e, nesse sentido, a palavra escrita é também um ponto de não-retorno.