Foi à beira do precipício que percebi que tinha chegado ao mais profundo de mim. Foi quando me debrucei sobre o abismo escancarado junto aos meus pés que compreendi que estava, de facto, a olhar-me nos olhos. Perante a minha dor emudecida, o fundo líquido do abismo abriu-se e separou-se, formando dois muros de águas turvas. Entre eles surgiu então uma espécie de terra-de-ninguém. E foi ali, no meio das pedras soltas e da lama que ficaram à vista, que percebi o que era verdadeiramente importante: no fim de tudo apenas ficará o que tenha força suficiente para ter direito a existir. Tudo o resto se dissolverá nas águas do tempo.