quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Bom Povo

O Soberano! - Zé Povinho, 1882. Assinado: Raphael Bordallo Pinheiro.
"Album das Glórias", Volume I, Nº 32, Lisboa, Setembro de 1882.
(dedicácia às turbas de Felgueiras, Marco de
Canaveses, Gondomar, Oeiras, Ponte de Lima
e outros cacicados)

No Minho limiano
O Zé Povinho é fixe;
Ele quer o seu queijo
E o resto que se lixe!

Em Felgueiras, no Marco,
Oeiras, Gondomar,
Aí é o Zé Povão
De novo a levantar
O esplendor da Nação!

Ele é quem mais ordena,
É o povo castiço,
Que segue a quem lhe acena
Com uma esferográfica,
Um boné ou um chouriço!

Dele faz trampolim
Qualquer trampolineiro,
Que o adula e o chula,
Que em cima dele pula
E o transforma em poleiro.

Querem dar alegria
Ao povo português?
Abonem-lhe por dia
O seu copo de três,
Deixem-no ir à bola
Um dia em cada mês.

Bom povo, tu és vil,
Bom povo, és um bandalho,
Bom povo que te vendes
Por duas cascas de alho!

Não se fiem no povo,
Olhem que foi capaz
De matar Jesus Cristo
E aclamar Barrabás!

Flávio Vara, A Bem Soada Gente, Roma Ed., 2007