Fascínios
Quando li um dos seus [Fernando Pessoa] poemas em inglês, há já bastante tempo, fiquei fascinado com esse homem extraordinário que considero a figura central do modernismo europeu. (…) É por causa desta figura maior da literatura que Lisboa surge com frequência na minha obra. A personalidade de Pessoa é fascinante, tal como as dos poetas Wallace Stevens e T. S. Eliot; o primeiro trabalhava em seguros e o segundo num banco, o que demonstra como a figura pública pode ser tão diferente da verdadeira personalidade. Tudo isto tem a ver com a questão da identidade – e Pessoa, com os seus heterónimos, é mais e melhor do que todos os outros, é um universo em si próprio. (…)
A questão da identidade
Creio que a identidade é uma das preocupações mais prementes do ser humano. Hoje em dia estamos mais conscientes desse facto e colocamos, continuamente, as eternas questões: poderíamos ter tido uma vida diferente? Será que somos sempre a mesma pessoa? O que mudou desde a nossa juventude? Perguntas desse tipo são feitas por toda a gente e não apenas por escritores.
A força do destino
Penso que as nossas vidas são regidas pela boa e pela má sorte que temos. Adam [protagonista de “Tempestade”], que parece uma figura quase divina – um homem que produz chuva -, é impotente perante as forças da pouca sorte. Esta ideia da força do “destino” está sempre presente nas minhas obras. (...) Os acontecimentos, em “Tempestade” [o seu último romance publicado em Portugal], reflectem essa absoluta indiferença do universo, que, embora pensemos o contrário, não nos deve nada. É uma questão de lançar os dados, de atirar a moeda ao ar. (…) Fazemos o que podemos, mas, no final, o que é que isso conta?
Falhar é a coisa mais humana que existe
No nosso dia-a-dia vemos amigos e conhecidos a soçobrarem e pensamos no que é que aconteceu para que tenham esquecido o que é fundamental nas suas vidas; também há pessoas que acham que têm que ser necessariamente felizes e falham, e falhar é a coisa mais humana que existe. Falhamos mesmo quando as oportunidades estão diante dos nossos olhos.
Um bom romancista pode ser uma pessoa feliz?
Um grande amigo meu, romancista, que também tem uma vida feliz e estável, diz sempre que quem anda à deriva numa jangada num mar infestado de tubarões não precisa de saltar para a água, só para experimentar a sensação de ser devorado.
William Boyd, excertos de uma entrevista feita por Helena Vasconcelos para o Ípsilon (15/10/2010)