Hoje não foi um dia como os outros. Acompanhei o meu pai, submergido numa neblina demente atravessada ainda por raios de luz, a um lar de idosos, onde deu entrada. Olhei depois o rosto crispado de lágrimas da minha mãe, como que na margem de tudo isto, e interroguei-me até quando resistirá ela à corrente demasiado forte da depressão contra a qual já tem poucas forças e meios para lutar. Esboroou-se hoje uma parte do cimento que nos unia aos três sob o mesmo tecto: o sofrimento. Agora, deverá cada um cimentar o muro com que cercará daqui para a frente a sua própria dor solitária.
Percebi hoje também, num flash de consciência, que a sulidão que aqui tenho escrito não passa de uma brincadeira de crianças ou de um mero artífício discursivo, quando comparada com a solidão que aí vem.
Não, hoje não foi, de todo, um dia igual aos outros.