segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Receita para fazer um primeiro-ministro

Na sua habitual crónica do Público (3/10/2010), Vasco Pulido Valente, cuja escrita contundente muito admiro, explica como é que se produziu o primeiro-ministro que nos (des)governa. A “receita” é um autêntico clássico da cozinha, perdão, da política à portuguesa e é mais ou menos assim:

Ingredientes:
Sócrates veio da província com a ambição de fazer carreira. Como educação formal, não foi além de um vaguíssimo diploma de engenheiro, extraído à complacência de uma universidade privada. E, como profissional, não se lhe conhece um currículo respeitável.”

Preparação:
“«Subiu» sob a protecção de António Guterres, que fez dele deputado, secretário de Estado e, depois, ministro (do Ambiente). Não se percebe o que Guterres viu na criatura. (…) O certo é que Sócrates o serviu fielmente. (…) E, quando Guterres um belo dia se escapou, Sócrates, que não valia nada, emergiu de repente como um candidato plausível a secretário-geral do PS. Porquê? Por causa da RTP, que o resolveu esolher para um debate semanal com Pedro Santana Lopes. Sócrates “passa” bem na televisão (como é obrigatório para um político moderno) e essa presença constante em casa de cada um acabou por o tornar uma espécie de encarnação do PS. O resto correu segundo as normas. Durante a campanha contra Manuel Alegre e João Soares, peritos de publicidade arranjaram maneira de ele não se comprometer com coisa nenhuma (uma técnica também obrigatória) e de mentir no caso de aperto (sobre impostos, claro). Sócrates ganhou; e ganhou a seguir, a maioria absoluta. Na noite da vitória não agradeceu ao país, com que nunca no fundo se importou. Agradeceu ao PS, a que devia tudo.”

Decoração e acabamento
E, assim, Portugal recebeu do céu (na verdade, do Largo do Rato) um primeiro-ministro, obscuro e vácuo, que não lhe merecia, em princípio, a menor confiança. Mas, tendo votado nesse grosseiro produto do PS, agora não se deve queixar.”

Ou seja, temos nada mais nada menos do que aquilo que merecemos. E a julgar pelas sondagens que, todos os meses, continuam a dar a vitória eleitoral ao PS “se as eleições fossem hoje” eu diria que, pelos vistos, ainda não estamos fartos. Também é verdade que as alternativas – sobretudo lá para as bandas do PSD – também não são muito apetitosas, não.

Observ. - Daqui por uns tempos pode ser que uns sais de fruto nos ajudem à digestão...
Raphael Bordallo Pinheiro