sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O movimento fixado em imagens



Hélios fotografado em Contemplation Rock, Glacier Point 
O autor destas imagens fantásticas nasceu em Londres, em 1830, sob o nome de Edward James Muggeridge, mas cedo partiu para a América onde se reinventou como o excêntrico, ambicioso e genial fotógrafo Eadweard Muybridge que assinava as suas fotografias como Hélios, o deus grego do sol. Começou por fotografar as mais espectaculares paisagens do continente americano, passou pelo retrato e, um dia, decidiu fazer voar um cavalo, ou seja, inventou uma elaborada técnica que permitia fazer fotografias em sequência, capturando assim o movimento, e tornou-se o precursor do cinema.

Em 1972 Muybridge colocou 24 máquinas fotográficas alinhadas de frente para um painel branco. No meio uma espécie de corredor com interruptores estrategicamente colocados e que o cavalo pisava à medida que ia avançando, fazendo assim disparar as câmaras que lhe captavam então a sequência de movimentos. Levou seis anos a apurar a técnica que lhe permitiu ainda inventar o Zootrópio (mais tarde aperfeiçoado e designado como Zoopraxiscópio), espécie de máquina de  projecção onde, fazendo girar um slide circular, era possível observar o movimento registado fotograficamente.



Nunca mais parou de coleccionar gestos, movimentos e expressões, desde os mais elaborados - uma rapariga a dançar - aos mais corriqueiros - um homem a tirar o chapéu - como se quisesse registar e catalogar todas as variantes possíveis do movimento. Com o passar do tempo as sequências fotográficas tornam-se cada vez mais longas e, claro, mais narrativas, anunciando e aproximando-se cada vez mais do que viria a ser mais tarde o cinema.

Na fase final da sua longa vida deu conferências um pouco por toda a Europa, divulgando o seu trabalho e a técnica que tinha inventado e desenvolvido. Colaborou até com faculdades de medicina fotografando doentes cujas imagens eram depois objecto de estudo. Fotografou-se ainda a si próprio, a caminhar, nu, com longas barbas brancas de profeta, corpo seco e musculado, com os olhos vivos e brilhantes, mas também perturbadores, de quem viu e, sobretudo, viveu muito. Teve ainda tempo de retornar à sua Londres natal, onde veio a morrer em 1904.

Quando, em 1895, os irmãos Lumière filmaram a saída das operárias da fábrica de Lyon havia qualquer coisa de novo e, ao mesmo, de déjà vu naqueles escassos segundos de filme: