A propósito do seu último livro “Viagem à Índia”, que o próprio autor descreve como “uma coisa e o seu oposto” - um romance, “também, em parte, um ensaio”, e ainda uma espécie de glosa inquietante e em verso a Os Lusíadas de Luis de Camões -, Gonçalo M Tavares diz que “Pode parecer estranho, pois tenho a imagem de alguém muito cerebral, mas escrevo instintivamente. Quando as coisas correm bem escrevo sem pensar em nada. Nunca penso antes de escrever. Tento que o pensamento coincida exactamente com o acto de escrita – não estão separados no tempo. Nunca planeio ou projecto. Quando começo um livro não sei que personagens vão existir, não sei o que lhes vai acontecer. Se já sei o que vou escrever, não escrevo. A minha escrita é claramente para mim um acto de investigação, tentar descobrir o que não sei.”
Sobre o seu próprio estilo de escrita diz ainda que “Muito do meu trabalho sobre o texto é eliminar. Se tenho dez palavras que tentam dizer algo numa frase, eu peno se posso passar para cinco palavras, mantendo a essência da frase. E este é o ofício mais difícil: trabalhar para o texto ser cada vez mais pequeno e forte. Ganhar força à medidia que perde palavras. Gosto que as frases sejam exactas e ambíguas, ao mesmo tempo, o que é um pouco paradoxal – mas tem algo a ver com isto: eliminar o explicativo e o que adoça a frase. Assim, julgo que fica mais espaço para o leitor.”
Se, mesmo assim, Gonçalo M Tavares vai já no seu 27º romance só podemos imaginar o que seria se, por acaso, o seu estilo fosse mais do tipo palavroso ou queirosiano...
Nota: Citações da entrevista dada por Gonçalo M Tavares ao Ípsilon, 28/10/10
Nota: Citações da entrevista dada por Gonçalo M Tavares ao Ípsilon, 28/10/10
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