O mundo inteiro está sozinho. Cada pessoa vive isolada no meio das multidões. As multidões são formadas por indivíduos, por numerosíssimos indivíduos separados uns dos outros.
As palavras caem perdidas no chão.
Sozinhos todos. Ninguém se entende. A humanidade inteira está reduzida à solidão de cada um dos seus indivíduos.
O mundo inteiro está dividido em tantos mundozinhos individuais, pequeníssimos, microscópicos, quantos são os seus habitantes.
Mas aquele mundo da colaboração de todos, o único mundo real afinal de contas, esse já não existe. Veio cada qual roubar-lhe o seu pedacito e o mundo ficou feito em migalhas, reduzido a grãos de areia, pó, nada!
(...)
S.O.S. perdidos, desencontrados, sozinhos! S.O.S. estamos todos desencontrados, estamos todos sozinhos, perdidos todos! S.O.S. sozinhos! S.O.S. desencontrados! S.O.S. perdidos! S.O.S. sós! S.O.S. sós! S.O.S.
S.O.S. é o sinal internacional de telegrafia a pedir socorro.
Está formado pelas três letras iniciais da frase inglesa: «Save Our Souls», que quer dizer em português: «Salvai Nossas Almas».
Estas três letras S.O.S. são as mesmas com que se escreve em português o plural do indivíduo isolado: Sós.
Almada Negreiros, Sudoeste, Nº 2, 1935, In Obras Completas