domingo, 28 de março de 2010

As palavras são bolhas

As palavras são bolhas redondas forradas por dentro a espelho. Nelas andamos sempre à roda enquanto o espelho nos vai devolvendo as várias dimensões da nossa própria imagem: umas vezes conforme, outras desconforme, por vezes disforme, ou mesmo uniforme, uma ou outra vez irreconhecível. Os espelhos que, afinal, são palavras, nunca enganam e não se deixam ludibriar facilmente. De frente para a superfície espelhada andamos sempre em círculos e sempre à procura da brecha aberta pela força centrípeta que nos conduza um dia ao centro da bolha, a esse lugar secreto que nem os espelhos, nem as palavras alcançam.
Aí, no centro da bolha, estaremos dentro de nós e estaremos a salvo: dos espelhos, das palavras e do resto.
Aí, nós é que seremos o espelho das palavras e elas serão em tudo iguais ao que somos e ao que pensamos. Iguais a nós.

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