domingo, 21 de março de 2010

A Poesia é...

"Letters to Europe"; Serigrafia de Rafal Olbinski, 1995

No dia em que se celebra a poesia, as palavras de Octávio Paz para uma das melhores (in)definições que conheço sobre o tema:

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a actividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola, une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Pregação no deserto, diálogo com a ausência: sustentam-na o tédio, a angústia e o desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história; resolvem-se no seu seio todos os conflitos objectivos e o homem adquire, por fim, a consciência de ser algo mais que trânsito. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar numa forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia de uma cópia da Ideia. Loucura, êxtase, logos. Regresso à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho, actividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. (...) Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitério. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, colectiva e pessoal, desnuda e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todos os rostos, mas há quem afirme que não possui nenhum: o poema é uma simples máscara que oculta o vazio, formosa prova da supérflua grandeza de toda a obra humana.