quinta-feira, 11 de março de 2010

Há datas assim

Datas

Há datas que não são um número, um mês e um ano.
Há datas que vivem dentro de nós
Vivem com a nossa intimidade, o nosso calor.
São como a linfa do nosso sangue.
(A minha infância, o despertar!)

Há datas que falam como se tivessem boca
e deixam um traço cá dentro na alma,
como uma cicatriz num rosto.

(A tristeza e a dor dos horrores da guerra!)

Um dia de chuva toda a gente esquece.
Mas um dia de cheia vive no coração dos pobres
como a melancolia das árvores desfolhadas no coração do poeta.
Como um grito sem destino que furasse o céu
viveria no coração dos homens!

Um dia de Paz parece um dia vulgar
Mas é como um canto de glória na voz da Primavera
Um dia de Paz não é nunca um dia vulgar!

Vasco Cabral, in A Luta é a Minha Primavera (1981)

As datas do grande tsunami na Ásia, das cheias e enxurradas na Europa, no Brasil, na Madeira, na América Central, dos sismos de Itália, do Haiti, do Chile, da Turquia, do ciclone Katrina e tantos outros... Todas elas deixaram cicatrizes no dorso da Terra e marcas profundas na vida e “no coração dos pobres”. Muitas ficarão para sempre.