sexta-feira, 5 de março de 2010

Epicurismo triste*

Ao Ricardo Reis

Quando tudo não pode nada, o instante decisivo torna-se derradeiro. Quando nada é tudo o que resta, esse instante último torna-se o primeiro.
Quando tarde insiste em passar a memória de tudo o que passou, vamos a tempo de perceber que o instante primeiro foi o único. Quando se torna evidente como tudo o que parecia tão perto, afinal, esteve sempre tão longe, percebemos que esse instante primeiro, de único, só teve a ilusão.
Por fim, quando todos os instantes – primeiro, único, derradeiro – começam a assemelhar-se na memória, percebemos que tudo passa, de facto. Só não passa é tudo da mesma forma.

(* Designação dada por Frederico Reis num texto onde explica a filosofia subjacente à obra de seu irmão, Ricardo).