quarta-feira, 17 de março de 2010

Proverbiais e aforísticas

Aqui há tempos era costume dizer-se que “andava meio mundo a enganar outro meio”. Para além de ser a óbvia conclusão a retirar dos factos que nos rodeiam, podemos sempre dizer que, pelo menos, as coisas estavam equilibradas, pois os “enganados” sempre tinham 50% de hipóteses de se safar.

(desconheço autoria da imagem)

Contudo, a vertiginosa sucessão de escândalos, compadrios, corrupções, desvios, apropriações, favorecimentos e outros quejandos que têm vindo a lume na comunicação social (e até não é difícil imaginar que apenas chega ao conhecimento público a ponta do icebergue, pois muito mais haverá que não chega nunca a descobrir-se) levaram-me a pensar que este provérbio se assemelha ao copo meio-cheio/vazio: tudo depende do ponto de vista.

Assim, se tivermos em conta que os que enganam são cada vez mais numerosos e dotados da mesma ganância desmedida de sempre, podemos concluir que os enganados não só se tornaram menos numerosos, como, por serem também a parte mais  fraca da conjuntura actual, começam a dar mostras de não “chegar para as encomendas”. Neste caso, diremos que andam três quartos do mundo (pelo menos) a enganar outro quarto e o copo fica meio-vazio. Só que, um destes dias alguém vai ficar zangado porque não estar a embolsar tanto como antes e pode bem ser esse o princípio do fim. 

Mas, por outro lado, se atentarmos nas estatísticas da Forbes sobre o muito restrito e selecto clube dos cada vez mais multimilionários e as associarmos às notícias que nos chegam do mundo para dar conta de que há cada vez mais pobres, até mesmo nos países ditos desenvolvidos, chegaremos a uma conclusão distinta: como os pobres não podem dar mais porque não têm o que dar, de facto, a solução tem passado muito por ‘sugar o sangue’ da chamada classe média ou remediada, a qual está agora praticamente à beira da extinção, sobretudo por falência financeira. E podemos, neste caso,  reescrever o provérbio dizendo que, afinal, anda mas é um quarto do mundo a enganar (e bem) outros três quartos. Fica o copo meio-cheio. Porém, os muito ricos e poderosos já devem estar a pagar a alguém para que tenha boas ideias e descubra uma forma de pôr os pobres a render. Bem nos podemos ir preparando.

Seja qual for a perspectiva de abordagem - copo meio-cheio ou meio-vazio - uma coisa é mais que certa: esta profunda injustiça social gera tensões que, um dia, hão-de dar os seus frutos. Não devem é ser muito saborosos.

Quem sabe disto tudo,sobretudo de pobres, e muito, é o Caco Antibes do "Sai de Baixo!" (que saudades das gargalhadas no final do serão):